Arábia Saudita apresenta nova interpretação de exigências de abate Halal

As autoridades brasileiras e o setor privado não conseguiram convencer o maior comprador de frangos do País – a Arábia Saudita – que a insensibilização mediante um pequeno choque elétrico não provoca a morte das aves, mas apenas resulta em atordoamento, evitando que os frangos fiquem agitados e se machuquem no momento do abate.

Foram encomendados estudos científicos, apresentados pareceres técnicos e feitos todos os esforços diplomáticos para que os sauditas revissem a decisão de não aceitar o atordoamento das aves, que busca também atender protocolos internacionais de bem-estar animal. Por ora, no entanto, prevalece a avaliação de que o choque elétrico vai contra a tradição de abate halal, ou seja, não está em harmonia com o que é “permitido” pelas regras da religião islâmica.

Para frigoríficos que exportam para a Arábia Saudita, a regra de não aplicar o choque elétrico antes degola das aves vale desde o dia 1º de maio. “No final das contas, todo mundo quer o bem do frango. A falta de insensibilização, aos olhos brasileiros, vem a ferir o bem-estar animal. Em relação à Arábia, é o contrário, o choque é que estaria ferindo esse bem-estar. É preciso atravessar o oceano e perceber que são culturas e histórias diferentes”, diz Ali Saif, diretor da empresa certificadora Cdial Halal, de São Bernardo do Campo/SP. O trabalho dos inspetores da empresa de Saif é assegurar que nenhum frango embarcado para a Arábia Saudita seja submetido a choque elétrico antes do abate.

A esperança do setor produtivo brasileiro é de que a posição dos sauditas seja revista no próximo encontro do Conselho de Cooperação do Golfo, no qual reúne Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã, Qatar, Bahrein e Kwait, que deverá acontecer ainda no início do segundo semestre.

Segundo o secretário de Agricultura de Santa Catarina, Airton Spies, o problema maior envolve o frango griller, que pesa cerca de 1kg e é abatido com 28 dias. “Os árabes argumentam que esse frango tem menos resistência e um índice maior de mortalidade pelo choque elétrico”. O secretário calcula que, sem o processo de insensibilização, as perdas por ferimentos e quebras devem aumentar até 15%. “Talvez os técnicos da Embrapa e outros especialistas possam nos ajudar, demonstrando que o choque não causa este problema. De qualquer forma, paralelamente, temos de encontrar outros métodos de insensibilização”, completa.

A situação poderá piorar se o entendimento saudita se expandir para todos os clientes árabes, mudando o padrão de abate halal. Atualmente, 50% das exportações brasileiras seguem as normas islâmicas. “As empresas estão tentando mostrar que isso vai contra tudo o que o resto do mundo está fazendo. A justificativa deles é de que o frango não pode morrer no choque, vários estudos mostram que isso não acontece, mas eles têm muita resistência”, diz Ricardo Gouvêa, diretor-executivo da Associação de Avicultura de Santa Catarina.

O certificador Ali Saif observa que há regiões inteiras dedicadas ao abate halal no País, e cita o exemplo dos municípios de Dois Vizinhos e Francisco Beltrão, no Paraná. Quanto à repercussão que o fim do atordoamento dos frangos pode ter junto a grupos defensores do bem-estar animal, Saif já tem o contra-argumento: “Com a greve dos caminhões, não vi muita gente se movimentar para dizer que os frangos estavam morrendo de fome. É preciso ser um pouco mais tolerante com o momento sensível que as empresas estão enfrentado, depois das Operações Carne Fraca, os problemas com a Europa e agora com a China”.

Para Ali Saif, que faz certificação halal para 50 frigoríficos brasileiros, a decisão dos sauditas de suspender a insensibilização dos frangos via choque elétrico pode estar relacionada ao método europeu, onde a voltagem aplicada é mais forte para assegurar que a ave esteja mesmo desacordada. No fim, será a decisão dos clientes árabes que encaminhará, de forma definitiva, a maneira como o frango é abatido no Brasil. “Não é possível abater de um jeito pela manhã e terminar o dia de outra forma. A indústria terá de escolher uma forma de abate e trabalhar nela”, conclui.

Entre as alternativas ao choque elétrico para insensibilização do frango antes da degola, está o uso de CO2 e a redução progressiva da pressão atmosférica. Ambas provocam o atordoamento pela diminuição do oxigênio disponível.

O que é o Abate Halal

Todos os alimentos são considerados halal desde que não sejam carne de porco e derivados, álcool, animais abatidos de forma imprópria, que contenham sangue ou que não desrespeitem as leis do alcorão e que não sejam em nome Alá (Deus, em árabe).

Algumas regras devem ser seguidas:

  1. O animal deve ser abatido por um muçulmano. Na hora do abate o profissional deve pronunciar o nome de Alá e a face do animal deve ser voltada para a Meca;
  2. A faca deve estar bem afiada e atingir de uma única vez os três principais vãos (jugular, traqueia e esôfago) do pescoço em movimento de meia-lua;
  3. A morte deve ser rápida para evitar o sofrimento do animal;
  4. O sangue deve ser retirado totalmente da carcaça para evitar qualquer contaminação;
  5. Após a degola e o escoamento do sangue, a carcaça deve ser lavada e higienizada e toda a água do processo deve ser extraída;
  6. Para higienização deste ambiente não pode ser utilizado produto com álcool (proibido para os muçulmanos).
  7. Todo o processo de abate e de transporte (do congelamento ao carregamento) desta carne são fiscalizados por um auditor ou supervisor de certificadora Halal.
  8. Para que não haja contaminação com outros tipos de carne (porco, por exemplo), o frigorífico deve realizar apenas abates halal.

(Fonte: Gazeta do Povo)

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