Animais também têm cultura, aponta estudo

“Há quase 50 anos, na pequena ilha de Koshima, no Japão, Imo, um jovem macaco que gostava de batata- doce, teve um insight que mudaria para sempre o hábito alimentar da sua espécie. Num dia de setembro de 1953, ele não levou a batata diretamente à boca, como faziam todos os outros animais. Ninguém sabe ao certo se ele percebeu que a terra suja desgastava seus dentes. Ou se ele achou mais saboroso comer ela limpa. O fato é que Imo começou a lavar a batata antes de comer, como faria qualquer dona-de-casa. No começo, ele apenas mergulhou a batata num pequeno braço d’água que corria em direção ao mar. Depois, aperfeiçoou a técnica: enquanto afundava a batata na água com uma das mãos, aproveitava a outra para retirar a lama mais aderente. Três meses depois, dois amigos dele começaram a fazer o mesmo e o hábito se espalhou pelos irmãos mais velhos, foi repetido pelas mães, numa espécie de reação em cadeia. Em cinco anos, mais de três quartos dos jovens da espécie lavavam a batata exatamente como Imo. Hoje, comer a batata limpa é uma característica das novas gerações de macacos da ilha de Koshima.”

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Essa história, publicada na revista Superinteressante, obrigou os cientistas a reverem a forma de como viam os animais e a espécie humana. Para os pesquisadores, a capacidade de Imo transmitir uma nova técnica para outras gerações é uma das provas de que alguns animais também têm um dom que era considerado exclusivo do homem: a cultura – algo que se aprende com os outros, como a técnica de lavar batata dos macacos japoneses.

Apesar de o primeiro artigo sobre esses macacos ter sido publicado na década de 1960, no Japão, a maioria dos pesquisadores ocidentais só recentemente usa o termo cultura para descrever o comportamento dos animais. Isso porque os orientais vêem o homem bem mais perto das outras espécies, ao contrário do que acontece aqui no Ocidente, no qual se coloca o homem em um pedestal muito acima dos outros. Por isso, as descobertas só vieram à tona quando os pesquisadores passaram a prestar atenção nos animais como uma forma de descobrir mais sobre a própria evolução humana.

Vale ressaltar que a lista de animais que têm cultura não está restrita a chimpanzés, macacos-pregos, gorilas, orangotangos e outras espécies próximas do homem. Há muito tempo, os cientistas sabem que os mamíferos marinhos, como baleias e golfinhos, têm uma inteligência surpreendente. Mas novas descobertas trouxeram dados ainda mais reveladores.

No ano passado, no Aquário de Nova York, uma experiência mostrou que os golfinhos têm uma capacidade que até então era considerada exclusiva do homem e dos grandes primatas: são capazes de se reconhecer no espelho. Para comprovar que, de fato, o animal sabe que quem está ali do outro lado do vidro é ele e não um estranho, os pesquisadores fizeram um teste simples, mas bastante eficaz: colocaram pintas pretas de tinta não tóxica em diversas partes do corpo do golfinho para saber se eles iriam procurar a imagem desses sinais. Resultado: os golfinhos Presley e Tab, do Aquário de Nova York, colocaram exatamente as partes do corpo pintadas em frente ao espelho, como se quisessem ver as manchas pretas. E, a cada vez que uma outra parte do corpo era pintada, eles expunham a nova marca no espelho. Isso prova que essa habilidade não é exclusiva dos grandes primatas.

 

Fonte: revista Superinteressante
Foto:animais.culturamix.com

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