Demanda por labradores cor de chocolate tem deixado cães da raça doentes e propensos à morte prematura

Uma nova pesquisa mostra que labradores cor de chocolate são mais propensos a ter problemas de saúde e morrer mais cedo, em comparação com labradores pretos e amarelos. Uma razão provável, dizem os cientistas, seria um efeito de gargalo estreito causado pela demanda de consumidores.

Labradores cor de chocolate têm uma expectativa de vida 10% menor do que a dos labradores pretos ou amarelos, segundo uma pesquisa publicada em 22 de outubro de 2018 na Canine Genetics and Epidemiology. Labradores cor de chocolate também são mais propensos a problemas de saúde, como infecções nas orelhas e na pele, além de condições nas articulações. Labradores são a raça de cachorro mais popular nos Estados Unidos — e uma das mais populares no Brasil —, o que torna essas descobertas de extrema importância para donos e criadores, alertando-os dos potenciais problemas de saúde deles.

O gene da cor de chocolate, diferentemente dos genes das cores preta e amarela, é recessivo nos labradores, o qual significa que tanto a mãe quanto o pai devem ser da cor de chocolate para produzir a característica nos filhotes. Isso reduz drasticamente o pool genético, levando à perda de diversidade genética e ao surgimento de efeitos de gargalo. Os autores do novo estudo, liderado por Paul McGreevy, da Royal Veterinary College, em Londres, suspeitam que essa seja a razão pela qual os labradores cor de chocolate são menos saudáveis.

“Estávamos interessados ​​na associação com a cor da pelagem, porque a pigmentação chocolate é recessiva em cães”, escrevem os autores no estudo. “Então, se a cor de chocolate do pelo é desejada em ninhadas, os criadores podem ser motivados a reproduzir a partir de certas linhas que podem, inadvertidamente, aumentar a predisposição dos filhotes para certas doenças.”

O pool genético limitado para labradores cor de chocolate, dizem os pesquisadores, resultou, consequentemente, na proliferação de genes responsáveis por infecções na orelha e na pele, entre outros problemas de saúde.

Para o estudo, os pesquisadores analisaram dados coletados por meio do Programa VetCompass, que reúne dados eletrônicos de pacientes cães levados a veterinários no Reino Unido – contudo, esse estudo é limitado aos labradores no Reino Unido, portanto, podem existir variações em outros países. A equipe analisou dados de 33.320 labradores, dos quais uma amostra aleatória de 2.074 foi selecionada para avaliar problemas de saúde e mortalidade. Dos labradores estudados, 44,6% tinham pelagem preta, 27,8% eram amarelos e 23,8%, cor de chocolate.

O tempo médio de vida dos labradores no estudo foi de 12,1 anos, sendo inferior aos 12,5 anos estimados anteriormente, mas os labradores cor de chocolate tiveram uma vida útil 10% menor do que os labradores pretos ou amarelos, normalmente vivendo em torno de 10,7 anos. Cores à parte, as causas mais comuns de morte foram distúrbios musculoesqueléticos e câncer. Os pesquisadores também descobriram que infecções de ouvido e doenças de pele eram mais prevalentes em labradores cor de chocolate do que nos outros.

Por exemplo, uma condição de pele dolorosa conhecida como dermatite piotraumática foi observada em 4% dos labradores cor de chocolate, em comparação com 1,1% nos labradores pretos e 1,6% nos labradores amarelos. Infecções de ouvido do tipo otite externa foram observadas em 23,4% dos labradores cor de chocolate, em comparação com 12,8% e 17% nos labradores pretos e amarelos, respectivamente.

“Também descobrimos que 8,8% dos labradores estão acima do peso ou com obesidade, uma das maiores porcentagens entre as raças de cães presentes no banco de dados do VetCompass”, disse McGreevy. “Havia mais cães acima do peso e obesos entre os labradores machos que tinham sido castrados, do que entre aqueles que não tinham sido castrados, mas não havia tal padrão para os labradores fêmeas”.

Essa observação bate com uma pesquisa de 2016, no qual mostrava que labradores têm uma mutação genética que faz com que eles comam em excesso. A obesidade pode desencadear em cães problemas de saúde como diabetes e doenças cardiovasculares, mas também pode levar a outras condições.

“[Labradores] são, frequentemente, de porte grande, com uma tendência a comer além de suas necessidades fisiológicas, talvez por causa de uma [falta de gene] e, portanto, são mais propensos a desenvolver obesidade, traço que contribui para manifestações clínicas de problemas ortopédicos, principalmente displasia de cotovelo e de quadril”, escrevem os autores do estudo.

Os pesquisadores alertam que os dados utilizados no estudo dizem respeito apenas aos cães que foram levados a veterinários e que a “demografia de uma população inteira, ao invés da população veterinária, pode ser difícil de inferir a partir de dados clínicos”. Os pesquisadores não têm o quadro completo, já que os labradores, nos quais não são regularmente levados ao veterinário por seus donos, podem ter uma saúde que varia de formas importantes.

Como apontado, as práticas de criação e a demanda de consumidores por labradores cor de chocolate podem ser responsáveis pelos problemas de saúde observados. Portanto, os pesquisadores dizem que uma análise parecida deve ser feita em pugs e em cavaliers king charles spaniel, já que essas raças também são favorecidas de acordo com a cor de sua pelagem.

Quanto ao que pode ser feito para remediar a situação, labradores de outras partes do mundo podem ser introduzidos para diversificar o pool genético. Ou, de maneira mais prática e humana, donos e criadores em potencial devem parar de se fixar tanto nos labradores cor de chocolate — ou renunciar completamente os puros-sangues de uma vez.

Fonte: Gizmodo/George Dvorsky

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