Eles podem servir de comida para a população e ajudar a reduzir a fome no futuro

Apesar da fama de serem nojentos, pragas de lavouras e de atrapalhar as pessoas em dias de quentes, os insetos desempenham importante papel ecológico e já estão sendo analisados como potencial na oferta de alimentos para os seres humanos. 

Recentemente, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) publicou um relatório que analisa o potencial dos insetos na oferta de alimentos para a humanidade. Para a organização, os insetos podem ser utilizados como reforço na comida de boa parte da população no futuro.

A Organização calcula que quase 1 bilhão de pessoas sofrem de desnutrição, atualmente (2021) e que no futuro esse cenário poderá ser ainda pior. A estimativa é que a população mundial atinja 9 bilhões em 2050, e para alimentar essa quantidade de gente, a atual produção de alimentos precisará dobrar. Mas a expansão das terras cultivadas e a criação de animais não poderão acompanhar esse ritmo. Alguns especialistas acreditam que a solução estaria na produção de insetos em fazendas especializadas.

A química Thérèse Cibaka, nascida na República Democrática do Congo, vive em Belo Horizonte desde o início de 2011, trabalhando em diversos problemas ambientais. Segundo ela, insetos sempre fizeram parte da sua alimentação, por cultura e também porque se preocupa com a alimentação, com agricultura familiar e com a sustentabilidade do planeta. “Lá, comer insetos é tão comum quanto comer frangos aqui, sou africana e comer alguns insetos faz parte da nossa alimentação cotidiana”, afirma a química. Os insetos são consumidos como fontes de proteína de origem animal. A química congolesa afirma que não pretende convencer ninguém a comer insetos, “mas talvez, para ajudar a sustentabilidade do planeta, elas possam tentar diminuir o consumo de carne.”

O uso dos insetos

Thérèse explica que comumente os insetos são preparados fritos, mas, em geral, são vendidos vivos para garantia do seu frescor. “Além disso, podem também ser comercializados secos, por um processo de secagem ao sol, e no Congo os pratos com insetos são sempre salgados: grilos, lagarta branca, lagarta preta e branca, gafanhotos e besouros.”

A química destaca que a compra e venda dos insetos é um negócio interessante. Eles são cuidados nas regiões do interior do Congo e para vender é necessário consultar o chefe da comunidade (da região) onde estão os insetos. É ele quem define qual a quantidade que pode ser vendida e/ou consumida. Essa precaução visa evitar o consumo excessivo. Alguns insetos estão disponíveis durante todo o ano e outros apenas em épocas específicas. “Não saberei como distinguir o gosto de cada espécie de inseto, mas os gafanhotos, por exemplo, têm gosto de camarão crocante. Já os insetos secos têm gosto marcado pelo processo de secagem. Meus preferidos são as lagartas brancas frescas fritas e os gafanhotos.”

Valor nutricional 

Para a professora de química de alimentos da Escola de Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Eleonice Moreira Santos, os insetos podem ser considerados alimentos nutritivos, “por apresentar uma elevada concentração de proteínas, lipídios, e minerais, contribuindo de forma significativa para a alimentação humana. Para alguns autores que avaliam há mais tempo o valor nutricional dos insetos, eles são considerados superalimentos.”

Eleonice explica que o consumo de insetos – a entomofagia – como já publicado pela FAO, é considerado seguro, além de sustentável, e nos conta que num trabalho realizado com a sua equipe, avaliando a composição nutricional do grilo-preto (Gryllus assimilis) e do tenébrio gigante (Zophobas morio), os principais constituintes encontrados, foram, proteínas 65% e 46%, respectivamente, seguidos por lipídeos e minerais. “Em relação aos lipídeos (gorduras) a composição dos ácidos graxos presentes nesses insetos, é semelhante ao óleo de palma, com uma boa relação entre ácidos graxos saturados e insaturados. O conteúdo mineral presente nesses insetos, em termos de ferro e zinco, por exemplo, é semelhante ao encontrado na carne bovina, e superior à carne suína e a de frango. Outros minerais, como cálcio e manganês, apresentam concentrações maiores do que as principais fontes de proteína animal. Baratas e gafanhotos também exibem concentrações semelhantes.”

Os problemas culturais

Aspectos culturais em relação ao consumo de insetos, principalmente nos países do Ocidente, são muito complexos e difíceis de serem alterados. De acordo com a professora, o nojo, o preconceito e o medo de contrair doenças estão associados à falta de conhecimento.

As técnicas de processamento

A professora Eleonice Moreira Santos conta que muitas empresas startups e instituições de pesquisa têm desenvolvido produtos e técnicas de processamento com insetos, como a desidratação simples, ou o revestimento dos insetos desidratados com chocolate, produção de farinhas, isolados protéicos, barras do tipo cereal, e vários outros. “Esses produtos tendem a auxiliar a aceitação de insetos na alimentação ou mesmo despertar o desejo de experimentar, nas culturas nas quais o hábito de consumir insetos não é praticado”, aponta Eleonice.

Fonte :  Animal Business Brasil adaptado por Qualittas

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